quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ELIS: A chama ainda não se apagou


Por Eduardo Humbertto


Há exatos 30 anos, o Brasil era surpreendido com a notícia de sua partida, findava-se ainda no auge de talento e juventude, uma carreira brilhante e singular. ELIS REGINA CARVALHO COSTA, a “Pimentinha”, ou simplesmente “Elis” como preferir, se foi em tempos férteis da música brasileira, onde ela era a maior, inquestionavelmente, e o tempo teima em não dizer o contrário, mesmo após três décadas de ausência física. Me refiro assim, pois ela está presente, viva, jovem, radiante em sua melhor forma até hoje. Talvez seja esse o consolo por se morrer tão jovem e no auge do estrelato.

Não quero somente reforçar elogios à Elis e me perder em adjetivos batidos, mas me posicionar como defensor da memória artística e cultural do Brasil, que muitas vezes não é tratada como o tesouro imaterial que é, com raras exceções. Guardar a memória de um artista é preservar o retrato de uma época, de um sopro de vida em algum lugar do tempo que não coube apenas à época que pertenceu. Elis Regina é um exemplo disto, viveu intensamente uma carreira de poucos mais de vinte anos, que se desdobrou ao longo do tempo, chegando aos dias de hoje ainda como referência a ser alcançada.

Na tentativa de preservar sua memória e contribuição, somos convidados a redescobri-la, o que acontece naturalmente, devido à quantidade e qualidade do repertório que Elis gravou. Passando das mais conhecidas (Fascinação, Maria Maria, Como Nossos pais, O Bêbado e a Equilibrista, Águas de Março, Atrás da Porta), chegando para as menos conhecidas do grande público e com qualidade equivalente (20 anos Blues, Querelas do Brasil, Mestre Sala dos Mares, Agora tá, O rancho da goiabada, Marcha da Quarta-feira de Cinzas, Corrida de Jangada, Sabiá, Na Batucada da Vida, Caxangá, Velha Roupa Colorida, Meio de Campo etc), a cada nova descoberta de pedaços de um repertório tão extenso é como se ela ainda estivesse produzindo, viva como nunca, alimentando a admiração de fãs apaixonados pela música que só ela pôde transmitir com tamanha verdade e entrega, características estas, que mais admiro em um artista, verdade para lidar com a arte e entrega para fazer dela um ofício atemporal.

Este ano, em memória dos últimos 30 sem Elis, será um período de homenagens, relançamentos de discos raros, realização de uma exposição itinerante que passará pelas principais capitais, e apresentação de cinco shows de Maria Rita cantando músicas do repertório da mãe, algo ainda inédito e que promete grandes emoções. Elis se foi cedo, mas deixou uma legítima representante do talento, semelhante na aparência e na voz, mas com personalidade própria. 30 anos depois, Elis é uma chama que ainda não se apagou, e que ainda vai iluminar futuras gerações inspirando brilhantismo e personalidade. VIVA A MÚSICA BRASILEIRA.

"A voz continua, viva e límpida. Continua nos discos e nas fitas. E ainda mais viva e mais límpida na nossa saudade." Luiz Fernando Veríssimo