O insuportável não é só a dor, mas a falta de sentido da dor, mais ainda, a dor da falta de sentido. (Oswaldo Giacoia Jr.)
Os escritos do filósofo alemão Nietzsche propõem-nos uma luta ferrenha contra tudo e contra todos os que insistem em rebaixar o homem, torná-lo escravo do mundo e dos poderes instituídos.

Nosso tempo exige homens e mulheres “apaixonados” pela vida, capazes de manter a cabeça erguida, apesar das dores do mundo, buscando iluminar (ou decifrar) os enigmas, as engrenagens, as armadilhas sutis da existência, sobrecarregada de vaidades, intrigas e preconceitos. Urge que nos coloquemos a inevitável questão: o que em nós se curva, tão facilmente, à vontade arbitrária de outrem?
Frente à liberdade ameaçada e aos sonhos frustrados, o instinto de sobrevivência nos impele a buscar alternativas. Para opor-se às tendências culturais dominantes, entre as quais se destaca o atual isolamento social humano, a arte em geral se coloca como uma poderosa força de resistência, um ponto de partida para o novo, para uma transformação radical das estruturas sociais opressivas, desumanas, cruéis. (Que o prezado leitor me perdoe por retomar o mesmo tema. A boca fala do que está cheio o coração). De fato, a arte pode colocar-nos na presença do indizível, preenchendo espaços vazios, dando alento e força para as necessárias transformações. Você, leitor amigo, que conhece a música de um Wagner, de um Mozart, a tragédia grega antiga, os grandes nomes da literatura universal, sabe bem de que falo.
A arte leva-nos a confrontar, com trágica sinceridade, nossos fracassos, nossa intolerância, nossas fraquezas, enfim, a matéria prima (o barro) de que somos feitos. A arte pode confrontar-nos, de forma funda e integral, com nossa ambiguidade, aparentemente sem saída, com nosso desinteresse pela leitura atenta dos caprichos a que a vida nos submete.
A arte nos propõe um desfiar cuidadoso da nossa intimidade e, ao mesmo tempo, um estilo clínico de observar e auscultar o mundo, sem tempo para futilidades, com a determinação e a persistência de condenados à morte (pois que o somos, de fato). Enfim, o convívio com a arte pode ser um modo melhor de lidar com os desacertos, com a crueldade, com a atmosfera envenenada do mundo.
Tropeçando nas palavras, nos acontecimentos, vamos abrindo brechas e clareiras, e com os fiapos da nossa vida banal, quem sabe, possamos reescrever uma narrativa nova, transformando nossa paisagem de desamparados, produzindo um milagre (profano), alimentado pelo desejo forte e profundo de também sermos abraçados pela tal felicidade. Pois, como já disse o cronista Luis Fernando Veríssimo, o ofício de viver requer prática, habilidade e um talento incomum. A vida, minha gente, não é pra qualquer um!
FONTE: Coluna 'Ponto de Vista', do Jornal CORREIO de Uberlândia. 02/02/2011.
http://www.correiodeuberlandia.com.br/blog/REDACAO/37/ponto_de_vista.html
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