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Eva Wilma como Blanca Estela Ramirez, em Azul Resplendor. |
Uberlândia vive um novo
e interessante capítulo de sua história cultural. Não que todas as dificuldades
históricas de se fazer cultura tenham desaparecido de uma hora para outra,
definitivamente não. Entretanto, o pleno funcionamento do Teatro Municipal nos
mostra que um capítulo iluminado está sendo escrito a todo vapor e sua ambição
maior é deixar marcado de uma vez por todas, o nome de nossa cidade no circuito
nacional das artes cênicas.
A última emoção deste
capítulo ainda em construção refere-se ao espetáculo “Azul Resplendor”, texto
do dramaturgo peruano Eduardo Adrianzén, direção de Renato Borghi, grande nome
do teatro brasileiro, e Elcio Nogueira Seixas. O palco do Teatro Municipal
recebeu Eva Wilma, Pedro Paulo Rangel, Dalton Vigh, Luciana Borghi, Luciana
Brites e Felipe Guerra para uma noite de homenagem aos oitenta anos de vida e
sessenta de carreira de Eva Wilma.
A escolha do texto
partiu da pesquisa sobre o teatro latino-americano realizada pelos diretores,
que visitaram nossos vizinhos e colheram um riquíssimo material sobre a
dramaturgia dos países e suas peculiaridades, o que vem se desdobrando em
projetos, como a montagem de “Azul Resplendor”, e outros que ainda serão
lançados.
Homenagear Eva Wilma e
sua carreira brilhante é acima de tudo também reverenciar o teatro, essa proposta
norteia toda a encenação, se desenvolve como uma metalinguagem sofisticada,
pois encontra nos atores principalmente nos mais experientes, a sustentação
necessária para a verossimilhança dos acontecimentos que envolvem os
personagens e a realidade nua e crua dos profissionais de teatro, e da cultura
em geral.
A metalinguagem é ainda
mais poderosa quando se torna uma metáfora da vida em si, a chama de um fósforo
que começa com a mágica da luz, avança para o fogo intenso, potente, até que,
aos poucos, o calor se desvanece, e quando menos se espera, surge um azul
semelhante ao usado para anoitecer os palcos, para assim chegar ao fim
inevitável, seja do espetáculo, ou de uma existência. Esta imagem poética é
impactante pela simplicidade, está colocada no início e no fim do espetáculo. O
ofício do teatro é a própria metalinguagem da vida, isto porque, fazer teatro,
estudar teatro, ver teatro nos liga diretamente com a efemeridade da vida e somos
convidados a buscar em nós a melhor maneira de lidarmos com isso.
O conflito de gerações
entre os personagens Blanca Estela Ramirez (Eva Wilma), Tito Tápia (Pedro Paulo
Rangel) e os demais jovens atores, também é um tema
bem exposto pela encenação, nos faz refletir como esse embate acontece no dia a dia em
todos os setores da vida humana. O velho que é facilmente descartado para dar
lugar ao novo, ao dito revolucionário, e muitas vezes sem nenhum embasamento
que o qualifique, apenas a falsa pretensão da jovialidade de tudo querer
modificar sem a sábia visão do amanhã.
Acredito ser importante
deixar registrado momentos como este vividos
Eduardo Humberto Ferreira
Ator,
graduado em Teatro (UFU)FONTE: http://www.correiodeuberlandia.com.br/pontodevista/2013/12/02/azul-poesia/
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